Por Fernanda Padilha e Zé Mangini
para ALGI Mediação
Tenho prazer em assinar este texto com a Fernanda Padilha para contar para todos o que significa o Workshop Impromedição. Este Workshop surgiu a partir da observação da necessidade de um preparo aprofundado para lidar com o inesperado na Mediação. Os princípios do improviso, quando aplicados, podem se transformar em uma ferramenta poderosa para a atuação de profissionais de Mediação à medida que proporcionam a identificação de padrões de pensamento, sentimento e ação, que influenciam diretamente na percepção do Mediador sobre o contexto. O nome é uma combinação a partir das palavras: IMPROviso + MEDIAÇÃO = IMPROMEDIAÇÃO.
Iniciei a minha prática em Mediações e Conciliações, como a maioria dos Mediadores que atuam no mercado, dentro de um Cejusc – Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania, que são unidades do Poder Judiciário, responsáveis pela realização de sessões e audiências de Conciliação e Mediação, sem prejuízo dos outros métodos consensuais, bem como pelo atendimento e orientação dos cidadãos dentro da cultura de paz e tribunal multiportas. Não vou entrar à fundo no assunto dos Cejuscs, por que não vem ao caso no momento, mas tenho incontáveis Histórias.
A atuação de um Mediador e Conciliador em um Cejusc só é possível após a conclusão de um curso em entidade habilitada pelos Tribunais de cada Estado, e compreende horas teóricas e horas de observação e prática, monitoradas por outros Mediadores e supervisores. Aprovado, você ainda passa pelo crivo do próprio Cejusc onde deseja atuar e, consequentemente depende da nomeação pelo Juiz responsável por aquele Cejusc.
Não é um caminho simples. Mais do que isso, é um caminho que deixa qualquer profissional experiente e responsável, como eu, inseguro, cheio de dúvidas e incertezas. Não pela capacidade e entendimento do tema, mas por questões muito pessoais que acontecem quando tratamos com pessoas, comunicação, conflitos e relações humanas. Por estas e outras razões que a formação do Mediador deve ser ampla, contínua, multidisciplinar, focada no autoconhecimento, na comunicação, no entendimento do desenvolvimento do conflito, em negociação, tomada de decisão e outras tantas vertentes inesgotáveis.
Naquele começo, mesmo com os meus 50 anos de idade, me senti um adolescente em seu primeiro emprego. Um novato de pernas trêmulas, boca seca e mãos suadas. Verdade, tive o apoio de colegas, hoje amigos, que gentilmente, entre uma frase e outra, davam preciosas dicas e duras críticas à alguma fala inapropriada ou entendimento equivocado. Em meu estágio, que fiz questão de percorrer várias unidades de Cejuscs, aprendi muito sobre o que me servia e o que não me servia como Mediador para a atuação em ambiente de Cejusc.
Mas ninguém me ensinou a conviver com o ´incômodo do não saber’, como diz a Fernanda. Não vi em nenhum lugar ou nenhuma sala de Mediação e Conciliação, nem em qualquer curso básico de formação de Mediadores, nem em qualquer papo, qualquer orientação no sentido de como devemos trabalhar esta sensação de insegurança que nos toma quando fechamos a porta da sala e vamos ingressar em um mundo completamente desconhecido de uma Mediação. Costumo dizer até hoje, depois de incontáveis sessões de Mediação, que entramos em um quarto escuro e aos poucos vamos tateando, acostumando a visão, criando intimidade com aquelas pessoas e ambiente. Mas não é só isso.
Gosto do entendimento de que, nós Mediadores, estamos em estreito contato com o conflito das pessoas e as pessoas em conflito. Este olhar, por si só, traz consigo, uma grandeza e uma riqueza sem fim! Traz também uma responsabilidade e um cuidado que devem ser muito bem trabalhados. Deve ser entendido com total respeito e desprovido de todo e qualquer preconceito. Acolhido em sua plenitude com as suas características próprias, seus valores e crenças.
No ambiente privado ou judicial, cada nova Mediação pode ser entendida como uma estreia em um palco diferente, em uma cidade diferente, com atores novos que você nunca dividiu o palco.
Honrar a Historia, há de ser maior do que os nossos próprios egos e medos.
A Teoria U, relacionada com o Improviso no IMPROMEDIAÇÃO, tem muita coisa em comum com a Mediação, porque possibilita entendimentos e mudanças profundas, em situações complexas e conflituosas.
A Teoria U diz que o resultado de qualquer intervenção depende do lugar interior do interventor. Mudar o lugar interior a partir do qual se opera! Esse um desafio estimulado no IMPROMEDIAÇÃO.
O Improviso e a Teoria U criam espaço para a manifestação de cada perspectiva, com as suas próprias peculiaridades. É como diferentes atores, interatuando todos juntos em prol de um propósito criando espaço para poder observar as diversas formas de pensar, sentir e agir. Conseguir enxergar o que está dentro de cada um, requer olhar primeiro para dentro de si. Perceber o que esta sendo manifestado, que invariavelmente não é dito explicitamente, exige conexão com os próprios sentidos.
A proposta de dar o primeiro passo sem ter certeza do caminho é própria do improviso e da Teoria U. Para isso, é necessário abrir mão de necessidade de controlar tudo e de ter todas as respostas. É necessário lidar com o “incômodo do não saber”. A partir daquilo que se apresenta e daquilo que cada um traz, um caminho novo começa a surgir. É como no Jazz. O Improviso nos convida a olhar para dentro da forma de pensar, de agir, de sentir para abrir espaço para o que está sendo manifestado, permitindo assim, que a potência se liberte. Olhar e perceber essas diferentes perspectivas como recursos de criação.
Improviso e Mediação requerem prática e aperfeiçoamento constantes.
Improvisar não é fazer de qualquer jeito! É uma maneira de olhar para vida e responder a ela e não apenas reagir a ela, aceitando o que chega do Outro e do ambiente para transformar e caminhar para outro lugar. Juntos! Não é possível improvisar sem ter o mínimo de informações, sem ter um breve enquadre da situação e dependendo do contexto, muito conhecimento prévio, com espaço para interagir com o que chega.
Aprendi com a Fernanda que, improviso é ouvir em profundidade o Eu, o Outro e o sistema, para conjugar o pensamento e sentimento na ação presente. E para que isto aconteça é necessário auto-observação constante. A partir da consciência de como agimos, podemos nos libertar dos padrões estabelecidos em nós mesmos.
Improviso não é reação, é resposta! E isto ninguém me ensinou em curso nenhum para possibilitar que eu entrasse em minhas salas de Mediação com a coluna ereta e a mente aberta.
Mais um último ingrediente neste bolo para encerrarmos: o fermento. A curiosidade. As perguntas além de revelarem as informações necessárias para abrir todo este caminho, são capazes de produzir novos estados internos. Quando a pergunta certa se apresenta, um novo ponto de vista é criado e percebemos que existe um mundo além dos nossos padrões de percepção. A curiosidade revela! A curiosidade olha para o futuro e está reservada para aqueles que desejam se abrir para o mundo.
O IMPROMEDIAÇÃO é um catalizador de transformação. E transformação não é uma teoria, é um experiência! O Workshop, IMPROMEDIAÇÃO, desenvolvido com a ALGI relaciona o improviso e a Teoria U como ferramentas que desenvolvem habilidades muito úteis, quando aplicadas no exercício da Mediação. Vamos vivenciar juntos essa transformação!
Muitos dos conceitos e frases deste texto, foram extraídos e/ou adaptados de diversas passagens da edições anteriores do Workshop IMPROMEDIAÇÃO com a Fernanda Padilha e Ana Luiza Isoldi. Mais um dos cursos realizados pela ALGI Mediação que tanto expande nossos entendimentos e conhecimentos.
O Workshop IMPROMEDIAÇÃO acontecerá, nesta terceira edição, no dia 27 de fevereiro das 10h00 às 17h00, com intervalo para o almoço. É feito ao vivo e online, pela plataforma ZOOM. Acesse https://algimediacao.com.br/academia/impromediacao-o-improviso-agregando-valor-a-mediacao-t3/ para mais informações e para fazer a sua inscrição.
Ah, no dia 18 de fevereiro, às 19h00, logo depois do Carnaval, também vamos fazer um bate-papo bem gostoso pelo Zoom, para falarmos mais sobre Teoria U e Improviso e te animar a viver esta experiência com o inesperado. Você vai poder entender como aplicar toda esta sabedoria na Mediação.
*JOSÉ MANGINI é parceiro da ALGI Mediação. Advogado, Jornalista e Mediador certificado pelo ICFML, Secretário-Geral da Comissão da Advocacia na Mediação e Conciliação da OAB/SP e pós-graduado em Métodos Adequados de Resolução de Conflitos Humanos, pela ESA/OAB/SP. Atua na Mediação privada nas áreas empresarial e familiar. É Mediador certificado pelo CNJ onde atua junto ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
FERNANDA PADILHA, também parceira da ALGI Mediação, é terapeuta corporal e trabalha com desenvolvimento de lideranças e equipes, utilizando o improviso, a Teoria U e a criatividade como ferramentas de desenvolvimento. É originalmente atriz e também formada em Administração de empresas.